A VIAGEM
Saí de casa na sexta-feira por volta das 20hs, com destino a Barra Funda, local onde foi combinado a saída do ônibus para Belo Horizonte.
Não consegui chegar no horário combinado, mas eu tinha quase certeza de que o ônibus não sairia no horário certo, afinal imprevistos sempre acontecem. Enfim, devido o trânsito espetacular de São Paulo, conseguimos sair apenas às 22:30, ou seja, uma hora e meia de atraso.
Foram longas horas dentro do ônibus. LONGAAAAS... Sentei no fundão ao lado do meu amigo P.A. e fomos conversando boas horas.
As horas foram passando e nunca que chegava... Num determinado horário, não faço idéia que hora era, estávamos em umas 5 pessoas conversando no fundo do ônibus e de repente um rapaz estressado que estava fazendo a viagem conosco, jogou um travesseiro para trás e começou a gritar: "Todo mundo pagou esta porr..., Mas que merd.... vocês podem calar a boca... NUNCA MAIS... Vão tomar no PIIIIIIIIIIII..... 8 meses jogados no lixo". Ele ficou uns 5 minutos reclamando e só parou quando esgotou todos os palavrões que ele deveria conhecer. Ficamos todos quietinhos, um olhando para a cara do outro, sem reação, sem saber o que dizer.
Na hora eu não acreditei no que eu ouvi... De verdade achei um aburdo. Era uma pessoa que não conhecíamos, pois não era da nossa equipe.
Até concordo que poderíamos de certa forma estar atrapalhando ele dormir, embora estivéssemos conversando num tom baixo, mas não havia necessidade nenhuma agir daquela maneira.
Tudo bem, já foi. Em viagens como estas, estamos sempre sujeitos a tudo. Paciência.
Na segunda parada, eu resolvi não descer do ônibus, pois tinha conseguido pegar um pouco no sono.
Lá pelas 8hs da manhã chegamos em BH. Para nossa surpresa pegamos um engarrafamento na entrada da cidade. Às 8h30min finalmente chegamos em nosso destino, Hotel BH Palace. Nos acomodamos, tomamos café e fomos retirar o kit.
Havia uma fila enorme, debaixo de um sol escaldante para a retirada do kit. Como infelizmente eu não consegui a inscrição (embora tentei de toda forma: mensagens no orkut, fóruns em site de corrida, emails, etc...), acompanhei a Yara até o local onde ela ia retirar o kit dela (local especial para o pessoal da impressa)... e lá tentamos mais uma vez a inscrição. Deixei meus dados com um rapaz da Yescom e ele ficou de me ligar até o final do dia para me dar uma resposta. Mas infelizmente não rolou.
Voltamos para o local da retirada do kit, onde estava o restante do pessoal e lá tivemos a oportunidade de encontrar e conhecer pessoalmente nosso amigo corredor blogueiro: Jorge Maratonista. Muito simpático nosso amigo carioca.
Depois de mais de uma hora, todo mundo estava com seu kit na mão (mesmo eu :´-( ) , voltamos para o hotel. Eu acabei deitando na cama e tirei um longo cochilo. O pessoal saiu para almoçar.
Acordei por volta da 15:15 e aproveitei que o pessoal ainda estava no restaurante e almoçei também.
Demos um voltinha pelas ruas próximas do hotel e aproveitamos para conhecermos o "Mercadão".
A noite fomos jantar. Acabamos comendo umas pizzas num lugarzinho bem sem graça, com som ao vivo, diga-se de passagem INSUPORTÁVEL, mas como estávamos com uma galera bacana, até que a noite não foi perdida.
Voltamos para o hotel, para descansarmos para o grande dia.
A PROVA
Depois de aproximadamente 6 horas de sono (não dormi como gostaria), levantei e tomei um café da manhã bem reforçado. Consegui aproveitar bem o café da manhã, ao contrário do dia da meia do Rio. Acho que porque já tinha passado pelo baque da primeira prova longa e porque estava bem desencanada de tudo.
No sábado, a equipe havia montado a tenda para nossa concentração. Chegando no local, cadê a tenda???? A prefeitura da cidade havia recolhido!!! ABSURDO... Ficamos inconformados, uma vez que a própria organização havia dito que a tenda poderia ser montada.
Enfim, no final deu tudo certo. A prefeitura a trouxe de volta e guardamos no ônibus. Acabamos nos concentrando sem tenda mesmo.
Estava chegando a hora da largada e parecia que eu estava indo fazer um prova “tradicional de 10K”. Fui com o pessoal para a largada. Estava lotadoooo!!! Para se ter idéia, conseguimos um lugarzinho no portão de 7,5min/km.
A largada atrasou alguns minutos. Afinal, a corrida era cedo mesmo não é? O que são uns 10/15 minutos debaixo de um sol de 35º por volta da 10 da manhã? UM REFRESCO...
Fala sério né? GLOBO e YESCOM tudo haver: 100% desorganização!
A prova começou. Depois de aproximadamente 8 minutos que a corrida teve início, passei no tapete da largada. A largada tem uma rua muito estreita, que realmente dificulta a saída dos atletas.
Na hora que finalmente comecei a correr, foi que realmente passaram umas coisas em minha cabeça. "Nossa, são 18km... e eu aqui debaixo deste sol, sem treinar, sem inscrição.."
Mas não tinha volta. O negócio era concluir a prova, sem preocupação de tempo. A única meta era não chegar quebrada.
Largamos juntos eu, Fernanda e Ricardo. Os dois foram mais adiante e eu fiquei para trás. A Fernanda tem um ritmo bem mais forte que o meu, nem me esforcei tentando acompanhá-la. Passado pouco tempo o Ricardo se resguardou e acabamos indo juntos.
Passada justinha: 6 minutos no 1º km, 12 minutos no 2º km, 18 minutos no 3º km. No 4º km, por causa do posto d’água acabamos perdendo alguns poucos segundos.
Neste ponto já não agüentava o calor. Tentei resistir bravamente em correr com minha regata, mas o calor era tamanho que resolvi ficar de top e mostrar minha linda barriga, que mais parece um pão caseiro na fase de crescimento: branca e fofa, rs.
Perto do 6km o Ricardo avistou a Yara. Ele apertou os passos e a alcançou. Mais uma vez eu não quis nem arriscar, pois sabia que se apertasse, iria sofrer mais adiante.
O sol estava extremamente forte. Mas para alegria de nós pobres corredores, os moradores improvisaram chuveiradas, magueiradas para refrescar os atletas. Confesso que nos dois primeiros pontos de “banho” eu resisti, mas nos quilômetros seguintes eu me rendi. E olha, foi a melhor coisa que eu fiz. Depois fiquei disputando cada gota!
Chegando no km seguinte, vejo o Ricardo. Ele puxou um pouco a Yara e depois continuou a prova comigo. Fomos juntos até o 10K. Aqui havia um posto d’água. Eu peguei de um lado e ele do outro. Quando olhei para trás, o perdi de vista. Lógico, porque eu estaria olhando para trás, óbvio que ele estaria na minha frente.
Procurei, mas nada... Resolvi ficar na calçada e procurar mais um pouco. Desisti!
Peguei meu rumo e fui embora sozinha. Faltavam 8km pela frente, num percurso LINDO! Eu amei este lugar... Além da paisagem, o povo mineiro acompanhou a prova toda. Havia incentivo de todos os lados! A criançada ficava com a mãozinha estendida para que batêssemos nelas.
Realmente dava para se sentir importante! Confesso que para mim, aquilo foi um incentivo e tanto!
Como eu estava correndo sozinha, comecei a viajar enquanto corria. Olhei para o relógio e pensei. “Nossa, essa hora o Jorge Maratonista já concluiu a prova... e eu aqui... Ah... pelo menos estou aproveitando mais o percurso do que ele“. Desculpinha de gente lerda, rs.
Lembrava da viagem de ônibus e das altas risadas da viagem. Pensei na Yara, que tinha meta de concluir a prova bem. Pensei muito na minha amiga mineirinha Lana, que também estava participando da prova (sua primeira prova longa).
Passei em frente de um carrinho de sorvete... Por pouco não parei para comprar um picolé... ia cair muito bem... Mas continuei.
Engraçado, eu estava tão tranqüila, que embora o calor eu não pensei em desistir como acontece em algumas provas.
Faltando dois quilômetros para acabar a prova eu coloquei minha regata de volta e acelerei um pouco os passos. Ah, esqueci de contar, lá trás eu resolvi curtir melhor o percurso e dei uma caminhadinha de uns dois minutos... Na verdade eu nem ia contar isso para vocês, afinal, corredor tem preconceito em caminhar numa prova. Ia ser segredo só meu, mas eu não podia deixar passar essa passar em branco, vamos contar tudo, né?
Ao contrário da meia do Rio, o último quilômetro passou tão rápido que nem eu acreditei. Conclui a prova inteira, com uma leve dor nas pernas, mas nada de anormal. Fechei a prova em 1h57min.
Considerando o calor e minha falta de treinamento, fiquei feliz com o resultado, afinal minha meta tinha sido cumprida. Cheguei inteira!
Agora vem a parte crítica!!! Eu não tinha inscrição, consequentemente não tinha direito a medalha. Mas fui chorar um pouquinho, afinal foram 9 horas de viagem para correr 18km! Não poderia ir embora de mãos vazias!!!
Primeira tentativa. O rapaz da organização já gritava de longe “Chip na mão”. Expliquei que eu corri sem inscrição, mas que tentei me inscrever. Contei toda minha história. O cara simplesmente ignorou dizendo que normas são normas e eu não tinha direito a medalha. Pedi pelo amor de Deus, o cara me empurrou para sair da fila e disse que NÃO! Aquilo me subiu o sangue e lembrei do vocabulário do nosso companheiro de viagem (rs) e mandei ele enfiar a medalhar no... SIM, eu falei. Agora até eu estou com vergonha de mim, pois eu raramente tomo este tipo de atitude. Mas aconteceu!
Mas pensa que eu desisto fácil? Que nada. Lá fui eu em outra fila. Eu estava tão nervosa com cara, que eu comecei a chorar. Já cheguei na fila chorando, literalmente. Falei as mesmas coisas, .. "que tentei me inscrever.. blá blá blá"... A mulher “se comoveu” e me deu a medalha com direito até ao lanchinho e gatorade.
Voltei feliz e contente... mas com um pouco de remorso de ter falado com o rapaz daquela maneira, mas tudo bem. Já tinha acontecido.
CONCLUSÃO DESTA PROVA: TREINAMENTO É FUNDAMENTAL. E nesta prova, tive a plena convicção da minha decisão em fazer a MARATONA DE PORTO ALEGRE no próximo ano. Tenho certeza que serão longos meses de treino puxado, mas sem dúvida será um desafio que valerá muito a pena!!!
E se eu recomendo esta prova? SIM. Embora a organização seja muito ruim, o percurso é um espetáculo e os mineiros são muito receptivos!
Para terminar, gostaria de agradecer à todos que apoiaram a fazer esta prova (minha 2ª prova longa, tá bom vai, “semi longa”). À todos que tentaram me ajudar a conseguir uma inscrição em cima da hora... Aos que insistiram para que eu fosse nesta prova. E em especial minha família: Henrique, Clara e Pedro, que se não fosse por eles, não teria tido oportunidade de participar de mais este desafio!!!
Olha a mineirinha Lana comigo e com a Yara! Dá-lhe Lana. Parabéns!